segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Coincidências.

Lembro-me bem do começo de tudo. Era fim de tarde, devorávamos um delicioso sorvete de chocolate enquanto escolhíamos os personagens para o nosso filme. Para a mulher, eu não abria mão de Scarlett. Para o ator principal ele queria Owen. Numa época em que este nem sonhava em ser o Clive de hoje. Seria um épico, uma história inteligente. Como nós. Disse-me ele, enroscando seu indicador numa mecha do meu cabelo. A atmosfera era sempre leve, apesar dos pesares. Pena que naquele tempo meu coração já não tinha mais vontade própria. E não cogitava outra opção. O roteiro não chegou nem na metade, não deu tempo de escolhermos todos os coadjuvantes.

Uma obra inacabada.

E, depois de tantos anos, lembrei dele ao ver seu sorriso estampado num rosto feminino. Só pode ser a irmã, que nunca cheguei a conhecer. Quarenta minutos após essa reflexão atendo um número desconhecido no celular. Ouvi meu nome sendo chamado, e não o apelido de antigamente. Mas, mesmo assim, aquela voz não poderia ser de mais ninguém. Sonhei com você. Está tudo bem? Após eu responder que sim, que está tudo na sua mais perfeita ordem, ele desligou, sem maiores delongas. Sem nem ouvir que naquele dia, havia poucos minutos, eu tinha sorrido sozinha, na loja de cortinas, lembrando da urgência que vivemos.

Vai ser bom, não foi?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Resposta,

Bem mais que o tempo que nós perdemos, ficou pra trás também o que nos juntou.

sábado, 15 de agosto de 2009

Engoli o sapo.

Não tenho vontade de ir lá, chegar e falar. Nenhuma vontade. De dizer que foi muita sacanagem? Tenho não. Apesar de que - sacanagem - é um termo bem ameno pra tudo que houve. Acho que estou numa fase soft. Eespero que isso só me traga vantagens. Como agora, na hora da raiva. Da revolta. Sentindo o peso do nariz de palhaço no rosto. Mas sei que isso passa. Não sei quando. Não foi ontem, nem hoje. Ainda agora, enquanto assistia zerozerosete, despretensiosamente, algo me fez lembrar tudo. E começa a sequencia de sentimentos. Indignação. Raiva. Revolta. Resignação. Não há nada que possa mudar mesmo, então, só me resta processar tudo sozinha.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A canção tocou na hora certa.

Remexendo numa bolsa que há muito não usava, encontrei um papel cuidadosamente dobrado. Abri a folha, li e imediatamente cantei.

Mas guardei suas cartas com letra de forma.

Só que completei: mas eu sei de que forma mesmo você foi embora.

Alívio. Ufa.

domingo, 2 de agosto de 2009

Silêncio.

Sirene de ambulancia. Longe, bem longe. O celular apita: mensagem pra você. Alguém deixa cair um copo na cozinha. Eu me viro de lado, coloco o travesseiro na cabeça e faço um pedido. O telefone desta vez, toca. Insistente. Agudo. Não quero atender e não é nada pessoal. É só vontade de ser esquecida. Alguém me viu? Aposto que não. Afundo mais o corpo entre os lençóis, me enrosco e fico lá, captando mais sons. Não os interiores. Estes são os que estou tentando esquecer.

Paz é tudo que eu quero.